Serpa

Neste estudo, apresentam-se os primeiros resultados da revisão da epigrafia da parte portuguesa do antigo território da Baetica, levada a cabo entre 2016 e 2019, no âmbito do projeto FFI2016-77528-P do Ministerio Espanhol de Economia y Competitividad (FEDER). Tendo em conta os argumentos esgrimidos em trabalhos anteriores, recuperamos a fronteira da Baetica estabelecida por Hübner em CIL II, que se situava no rio Guadiana. Considerou-se assim necessário incorporar as inscrições do território Português da margem esquerda do Guadiana, no conventus Hispalensis, como tal, neste estudo apresentam-se os resultados deste trabalho no concelho de Serpa.

Serpa romana fazia parte do convento Hispalensis, como E. Hübner já considerava, embora ele não o considerasse uma comunidade independente devido à pouca fiabilidade que atribuiu ao testemunho de (Resende 1597, fl. 170; CIL II p. 124), transmissor do único testemunho de uma Serpensis c. R. (CIL II 971).  Existem poucos dados arqueológicos no atual aglomerado urbano de Serpa; no entanto, conhecem-se muitas villae na área rural e estão identificadas as vias que a ligavam com outros territórios. No entanto, sabe-se que cunhou moeda, com a legenda SIRPENS/ SIRPA, uma série única en bronze, na segunda metade do séc. II a.C., da qual se acharam pelo menos duas em território português, uma em Quintos, Beja, e outra em Serpa (Ruiz López 2010, 780; 2012).

Serpa é mencionada como mansio no Itinerário Antonino, na estrada de Esuri para Pax Iulia, entre Ebora e Fines, a 21 km de Évora; está também referenciada no Anón. de Ravena (306.6), autor do s. VII Segundo F. Villar (2000, 87), Serpa pertence à série de nomes de lugares em –ipo e seria uma grafia, com síncope vocálica, relacionada com Serippo, nome de uma cidade que ficaria localizada perto de Utrera (Villar, ibidem) (Sevilha), uma hipótese que não é fácil de demonstrar. Nas fontes árabes Serpa é designada como Šīrbah.

O corpus epigráfico foi registado desde o séc. XVI, por André de Resende, mas foi nos séculos XX e XXI que se produziram os estudos mais sistemáticos sobre a epigrafia e a arqueologia do concelho. Entre vários estudos, destaca-se a publicação de M. Conceição Lopes, Pedro Carvalho e Sofia Gomes, Arqueologia de Serpa (Câmara Municipal de Serpa, 1997), uma obra de referência que integra um catálogo epigráfico feito por José d´Encarnação que incluía peças inéditas e confirmava a existência das que já se conheciam na bibliografia anterior. Outro marco importante na bibliografía sobre esta região foi a publicação dos estudos realizados a partir das excavações feitas aquando da construção da barragem do Alqueva e dos sistemas de rega associados.

Nos comentários e variantes de leitura, optámos por fazer uma seleção das variantes que constam do aparato crítico, mencionando apenas as que considerámos que dão um contributo significativo para a edição e compreensão da inscrição.

Em relação à tipologia das inscrições, o maior número de exemplos é de aras, seguindo-se as cupae, as placas e algumas estelas. No que se refere às datações, são poucos os exemplos que podemos datar com segurança antes do séc. II d.C. e correspondem a placas com inscrições funerárias coletivas. As características formais dos monumentos, os elementos decorativos, os formulários e os traços paleográficos permitem datar a grande maioria das inscrições entre os séc. II e o séc. III d.C. Daí em diante, é reduzido o número de testemunhos epigráficos e de tipologias diversas, entre elas, tijolos com inscrição, uma piçarra e uma inscrição funerária paleocristã (Alves Dias, Soares, 1987).

Um aspeto importante neste trabalho de revisão e autópsia das inscrições foi a exclusão de uma inscrição, editada como romana e que afinal é de um período posterior. Também se conseguiu identificar a provieniência de uma inscrição que foi incluída no catálogo epigráfico de Serpa (Encarnção 1997, p. 122, n. 14), mas que terá sido encontrada em Baleizão, Beja e que, portanto, pertence ao conventus Pacensis.